quarta-feira, 30 de março de 2016

Diferença entre Ética e Moral



Artigo publicado no jornal Alagoas em Tempo, edição de 28 de março a 03 de abril/2016 | Ano 10 – Nº 721.

Marcos Antonio Fiorito *

Desde 2014, quando foi deflagrada a Operação Lava Jato, o País vive uma crise ética e moral sem precedentes. Todos os dias assistimos atônitos revelações envolvendo um esquema gigantesco de lavagem de dinheiro, que envolve, segundo se estima, 40 bilhões de reais.

Delações, prisões, conduções coercitivas, escutas telefônicas, tentativas de obstrução da justiça, etc. Enquanto isso, a Nação naufraga na maior crise política e econômica de sua história.

Não faltou quem, no passado, alertasse para a crise de valores pela qual atravessamos. Embora o problema seja universal, no Brasil ele se reveste de cores ainda mais vibrantes.

Fala-se tanto em falta de ética, falta de moral, contudo, a maioria das pessoas não distinguem bem uma coisa da outra. É verdade que muitas vezes elas se equivalem, porém não são a mesma coisa.

A ética é contemplada em vários cursos de graduação: direito, medicina, teologia, filosofia, administração, sociologia... Só para citar alguns. Inexplicavelmente -- e propositadamente, segundo os teóricos da conspiração --, não se exige disciplina de moral em nenhum momento de nossa formação escolar ou universitária. Em tempos da ditadura militar, havia a disciplina de Educação Moral e Cívica, entretanto, não era lá muito fiável e durou alguns poucos anos.

Enfim, resta ainda o ensino de moral para as graduações de Filosofia e Teologia...

Mas indo direto ao ponto, qual a distinção entre ética e moral? Ambas estudam, avaliam e julgam os atos dos homens, que se distinguem claramente dos atos humanos. Beber água porque se está com sede é um ato próprio do ser humano, é algo instintivo; já decidir se deve agir contra ou conforme a sua consciência é próprio do homem.

A origem da palavra ética vem do grego “ethos”, e significa costume, caráter, etc. É a parte da filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana. É ciência normativa que serve de base à filosofia prática.

A ética procura determinar a finalidade da vida humana e os meios de a alcançar, preconizando juízos de valor que permitem distinguir o bem do mal. Através do comportamento humano ao longo dos séculos, procura entender as regras de moral de maneira mais racional, embasada de forma científica e teórica.

Também se refere ao conjunto de princípios morais que se devem observar no exercício de uma profissão.

Já o termo moral tem sua origem no latim “morale”, e diz respeito aos bons costumes, aos modos de ser. É um conjunto de normas que vivenciamos de forma aplicada em nosso cotidiano quando questionamos o que é certo ou errado, moral ou imoral... Ela orienta as nossas ações em face de inúmeras questões do dia-a-dia.

Os Dez Mandamentos, tão familiar aos nossos ouvidos cristãos, é, por exemplo, um conjunto de leis morais.

Um professor deixar que seus alunos colem deliberadamente na prova será uma atitude antiética. Já o empregado usar de um atestado falso para ludibriar o patrão, será, sem dúvida, um ato de imoralidade.

(Autoriza-se reprodução do artigo com citação do autor.)

* O autor é teólogo e redator católico

quinta-feira, 17 de março de 2016

Sensibilidade moral


Amigo meu que mora em Zaragoza comentou comigo agora que o prefeito de Zaragoza, esquerdista, gastou 800€ com dinheiro da Prefeitura para uma viagem à La Coruña, para participar de uma reunião de seu partido. O povo se escandalizou e pediu a cabeça dele.

Para ver como o brasileiro é casca grossa do ponto de vista sensibilidade moral. É preciso desviar bilhões para que o povo acorde.

terça-feira, 15 de março de 2016

Opção preferencial pela futilidade

By Lecoeur graveur (Etrennes aux Enfans des Deux Sexes) [Public domain], via Wikimedia Commons


Artigo publicado no jornal Alagoas em Tempo, edição de 14 a 20 de março/2016 | Ano 10 – Nº 719.

Marcos Antonio Fiorito *

Há décadas, o Bem-aventurado Papa João Paulo II, de feliz memória, disse, em relação ao foco de seu pontificado, que teria feito opção preferencial pelos pobres. Ainda que a expressão pareça de índole socialista, em nada tem de comum com uma posição política de esquerda ou com a Teologia da Libertação. Pelo contrário, foi em seu pontificado que o ex-frei Leonardo Boff foi condenado a um silêncio obsequioso.

Parafraseando Sua Santidade, o autor deste artigo escolheu o título “Opção preferencial pela futilidade” para denominar o comportamento de grossa fatia da opinião pública mundial e, sobretudo, brasileira.

Um exemplo disso se deu há algumas poucas semanas, quando o Brasil mergulhou de cabeça no mar voluptuoso das comemorações carnavalescas. Muita gente observou, com a ajuda dos meios de comunicação e das redes sociais, que em certas capitais o Carnaval reuniu assombrosamente mais gente que as recentes manifestações populares, que pleiteavam novos rumos para o País.

O momento é grave, porém, infelizmente, muitos preferem sambar, pular, beber e divertir-se do que procurar entender com seriedade por onde as coisas caminham.

Faz pensar nos governantes da antiga Babilônia que, imprevidentes e descuidados da defesa da cidade, se refestelavam em banquetes e orgias, até que foram surpreendidos pelas hostes persas.

Entretanto, como dito acima, o problema não é só nacional; é global. Chamemos a isso de a globalização da superficialidade. Embora isso seja mais grave num determinado país que noutro, a moléstia se estende a todas as Nações. A tal ponto, que as pessoas mais reflexivas, ponderadas, preocupadas com os destinos de seu país e do mundo carecem de interlocutores. Pelo contrário, são muitas vezes obrigadas a tratarem de assuntos comezinhos para não correr o risco de ficar isoladas.

Uma prova cabal disso temos com as redes sociais. Vídeos de pessoas que se pronunciam sobre política, filosofia ou religião são “n” vezes menos acessados que as assim chamadas vídeo-cassetadas. Perdem feio de qualquer gravação amadora de um cãozinho engraçadinho, que sabe dançar sobre as patas traseiras. Para não falar de clipes obscenos…

Não estamos aqui defendendo a tese de que não há momento para entretenimento, festas e outras formas legítimas de diversão, mas apontando uma real preferência pela banalidade.

E se formos tratar a respeito do conteúdo da TV, o que dá mais audiência? Obviamente são as novelas, reality shows do tipo BBB ou a Fazenda. Talvez isso explique o porquê de programas e filmes cults serem transmitidos de madrugada, afinal, para a indústria da imbecilização, o importante é o vil metal. E quanto mais ignorante for a massa, melhor, pois o espírito crítico atrapalha a condução do gado…

Em 1944, numa radiomensagem, o Papa Pio XII fez uma oportuna e didática distinção entre povo e massa. Sintetizando o seu pensamento, temos que o povo tem vida própria, é lúcido, sensato, cheio de energia e personalidade. Contrariamente, a massa é amorfa, despersonalizada e inconsequente, fácil de ser manipulada e conduzida por qualquer aventureiro…


(Autoriza-se reprodução do artigo com citação do autor.)

* O autor é teólogo e redator católico

Veja também: Almas criadas à imagem e semelhança de Deus

quarta-feira, 9 de março de 2016


Crédito foto: http://canalaetv.com.br/etiquetas/casamento-primeira-vista


A ILUSÃO DE QUE É POSSÍVEL VIVER SEM NUNCA SOFRER

Um dos realities shows favoritos de minha esposa é apresentado no canal A&E, sob o título de "Casamento à Primeira Vista".

Seis pessoas se submeteram ao matrimônio sem sequer ter trocado uma palavra com o cônjuge antes. Inscreveram-se no programa, aceitaram as condições e, pam! Apresentaram-se no local do casamento civil com a cara e a coragem.

Passaram alguns dias juntos e, após alegrias e desentendimentos, tiveram que decidir se continuavam ou se divorciavam. Ou seja, tudo foi feito às avessas. Primeiro casaram, depois foram se conhecer.

Sem entrar no mérito da questão moral que envolve o reality show, causou-me especial curiosidade observar a vida de uma das participantes, de nome Jamie, cujo cônjuge chama-se Doug. O rapaz em tudo parece gente boa; não há tempo ruim pra ele. Já ela, tem a alma marcada por cicatrizes de traumas acumulados desde a mais tenra idade. Passou a infância e parte da adolescência assistindo discussões ásperas entre a mãe e o padrasto. Morou dentro de um trailer e, ao que tudo indica, foi vítima de alguma forma de abuso por parte do padrasto. É o que o programa deixa entrever...

Ela, a duras penas, se formou em enfermagem, mas nem por isso se viu livre de seus traumas. Inscreveu-se no programa do canal A&E e lhe deram Doug como esposo. No dia do casamento, ela o estranhou, teve uma impressão depreciativa do jovem, não gostou de sua aparência, etc. Após hesitar, disse "sim". No entanto, durante as comemorações, sentou-se no chão e chorou...

O jovem Doug a tudo suportou. Ao contrário dela, sentiu-se atraído pela jovem -- de fato bonita --, e mostrou-se satisfeito pela esposa que lhe deram, apesar de notar que ela, até certo ponto, o rejeitava.

Porém os dias de convívio a fizeram perceber que Doug é uma jóia rara. Jovem responsável, romântico, atencioso e de bom temperamento. A família dele a acolheu como se fosse uma filha.

E eis que chega o dia marcado para decidir se continuava casada ou se divorciava. Doug disse "sim", ela também...

O quadro se revertera. Tudo havia mudado, tudo a encantava. Mudaram-se para uma nova casa, maior e melhor. Seu sonho estava se realizando...

Até que ela sente aflorar um desejo enorme de ser mãe. Não se contém, vai almoçar com os pais de Doug e conta tudo pra eles. A família do esposo, entretanto, pede-lhe prudência: -- "Melhor esperar um pouco", dizem.

Ela tenta se conter, mas acaba contando ao marido... E ele se aborrece com a ideia, por achar muito prematuro. Quer ter filhos, mas não agora. E ela se entristece novamente, revive seus dias de incertezas, etc.

Provavelmente tudo acabará bem. Ela irá refrear a ansiedade e engravidar quando for mais conveniente. Seja como for, a vida dela é emblemática, pois exemplifica o quanto a vida nesta terra é cheia de altos e baixos e o quanto o sofrimento se faz presente.

"Quem vence sem dor, triunfa sem glória!" Não iremos encontrar neste mundo nenhum mortal cuja vida é isenta de dificuldades. Por isso é importante sabermos educar nossos filhos para a luta. Infelizmente vê-se muita gente negando a existência do pecado original, inclusive muitos pastores cristãos. Não me refiro exclusivamente aos evangélicos, mas de pastores no sentido daqueles que conduzem seu rebanho de fiéis, portanto, também me refiro aos sacerdotes.

É preciso ensinar nos púlpitos que o pecado original é uma realidade que acompanha o homem desde sua origem. E soma-se ao pecado original muitos outros crimes, que também são causas de sofrimento. Não adianta culpar só Adão e Eva, somos todos responsáveis pelo sofrimento que há no mundo.

O pecado, seja como for, não é paralisante. Deus nos concedeu muitos meios de progredirmos física e espiritualmente: através do arrependimento, dos sacramentos, do amor a Ele e ao próximo. O amor tudo conquista, tudo pode e ao Bem Supremo nos remete. Por isso São João da Cruz afirma que "no entardecer desta vida sereis julgado segundo o amor".

Recomendo também o artigo: Pecado Original e Sofrimento





APRESENTAÇÃO



Meu nome é Marcos Antonio Fiorito e este é o meu blog pessoal. Escolhi o título de Tutti Quanti porque pretendo tratar aqui de assuntos diversos, à medida que eu tenha tempo para escrever. Desde filosofia, religião, sociologia, história, política e tutti quanti!

Aproveitarei também para postar aqui os artigos que escrevo para o jornal Alagoas em Tempo. Espero que os internautas apreciem os assuntos e, sobretudo, como a abordagem é feita.

Aos visitantes, bom proveito!

Marcos